Depois do encontro com Zélia, no livro “infantil” que leva seu
nome como título, fique provocada sobre as formas como estamos escutando.
Aliás, essa já era uma questão a me acompanhar, dentre
tantas outras que também lhe fazem companhia.
O que ouvimos?
O que temos feito com o que temos ouvido?
Por que achar que temos (sempre) de fazer alguma coisa com o
que ouvimos?
Deixar que o que vem do outro nos toque. Deixar que o tempo
passe entre o que temos e o que o outro traz. Permitir que o tempo aja,
movimentando o que havia em nós para finalmente encontrar a transformação que o
outro provoca. Afetar precisa de tempo. Afetar-se depende de permitir ao tempo,
tempo.
O que surgirá do encontro com o outro não há como prever,
calcular, contabilizar. É um risco. Não há certezas do que virá.
Em troca da escuta oferecida por Zélia, as pessoas lhe
oferecem sementes.
Zélia escuta e recebe sementes.
Sementes podem permanecer sempre sementes, depende do que
agirá sobre elas. Nenhuma semente germinará sem que haja ação sobre ela, não
qualquer uma.
O que somos é transformado com a proximidade outro. Podemos
aguardar que o encontro aconteça em nós , deixando as sementes que recebemos se
transformarem em nossa terra, permitindo tempo e condições favoráveis.
Receber a semente que vem do outro não é assumir a obrigação
em fazê-la germinar.
A semente é um
presente.
A ação que será executada sobre ela é uma escolha, bem como aceita-la
ou não.
Zélia e o tempo descobriram muitas ações a realizar com as
sementes. Uma delas germinou.
Não sei se tudo isso parece simples. Não deveria parecer.
Receber sementes é bem mais difícil do que parece.
Aquele abraço, Laura F.
Créditos da imagem:
Foto de página do Livro "Zélia".
Ilustração: Stéphanie Augusseau
Autora: Chirstelle
Vallat
Tradução: Rosana de Mont’Alverne Neto
Editora: Aletria
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