Num canto por aí, numa conversa sobre futuro, adultos perguntavam às crianças o que queriam ser quando crescessem.
- Médica. – disse uma.
- Professor. – disse outro.
Pais sorridentes (ou irônicos) debatiam com as crianças sobre a rentabilidade das escolhas, orientando o que deveria ou não ser uma melhor saída para o futuro, até que uma resposta surpreende o grupo:
- Quando eu crescer quero ser uma mãe! – exclamou uma pequena.
- Mãe? Mãe não é profissão. – negou um adulto.
- Você tem que ser mãe e ter um trabalho. Mãe não é trabalho! – sentenciou outro adulto.
- Não! Eu vou ser uma mãe, igual à Ana. – insistiu a menina, e enquanto apontava para Ana, concluiu:
- Vou levar meus filhos na escola, vou passear com eles, ficar o dia todo com eles e vou ser legal igual a ela. – sorridente a menina olhava para Ana, que também sorria.
Diferente dos adultos à sua volta, a criança conseguiu perceber o quanto de trabalho estava envolvido na profissão da Ana, reconhecendo nela as habilidades e o prazer de seu trabalho, do mesmo modo que seus amigos reconheceram características interessantes nos trabalhos de médicos e professores que conheciam.
Ana foi reconhecida naquele dia de um modo diferente. Saiu sorridente da conversa e contou essa história para muitas pessoas, inclusive para mim. Não que ela contasse orgulhosa a história. A mim, ela parecia sentir-se reconhecida, vista, olhada, integrada, naquela referência tão inusitada que recebera de uma futura e sensível mulher.
Ana soube o que era o reconhecimento de seu trabalho naquele momento. Feliz de ser mãe a seu modo.
Num outro canto, uma outra mãe. Executiva, segundo filho. Gravidez e medo de perder o emprego, o super salário e os confortos que havia se acostumado a ter.
Carrega a barriga para todos os cantos, terceiriza a filha mais velha para mãe, sogra, babá, viaja sem parar a trabalho, disfarça todo mal estar, cansaço, dores, lágrimas e angústias.
Vai para maternidade com o laptop apoiado na barriga e manda e-mails até a hora do parto. Mais tarde no quarto, sem ninguém por perto, contempla a paz que sente, se emociona com o filho recém chegado, olha os detalhes do seu rostinho, toca nos seus dedos e cabelos e o observa dormir lentamente. Sente felicidade em todo seu corpo. Pega o celular e recomeça o trabalho.
Meses de licença? Ela não pode e não quer ficar tanto tempo fora. Feliz com os filhos. Feliz de ser mãe a seu modo.
Feliz sejamos!
Aquele abraço,
Laura Ferreira
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