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Bruxas, espelhos e cia

Pais e mães trabalham, estudam, assistem séries, filmes ou televisão, usam celulares e similares durante muito tempo, leem, dormem, fazem academia, respiram e, entre uma coisa e outra, cuidam, beijam, abraçam e curtem seus filhos e filhas.
O tempo é escasso na vida de quase todo ser humano e isso significa que, por mais que se cuide da qualidade do tempo de estar com os pequenos, o tic tac é limitado, e nesse pouco ainda aparece mais alguém para dividir o pouco tic tac que sobrava.
Para a criança, ainda que seja você a fada madrinha, não importa o tamanho da sua boa vontade ou o tamanho do amor que sinta pelo pai ou mãe dela ou ainda suas boas intenções, nada importa, nessa história, você está sobrando.
Não entenda que é pessoal, a criança está experimentando sensações dolorosas e o novo amor da mãe ou do pai representa isso. Um completo desconhecido chegou e quer dividir (ou roubar) o tempo e o coração do pai ou da mãe com ela. Isso é sofrido.
Ao recém-chegado/a, resta ter muita paciência e muito cuidado, mas principalmente respeito. Resista, principalmente, ao desafio do espelho: “Espelho, espelho meu, existe alguém melhor do que eu”. A importância de resistir ao espelho é que a resposta é “Sim”.  Aos olhos da criança, é claro que existe alguém melhor que você, afinal tem a mãe, o pai e um monte de gente que ela adora na vida, e você acabou de chegar.
Chegue com calma. A criança está experimentando você e isso é bem diferente de “te testar”. O adulto é você, então seja gentil e experimente também. Observe como se sente próximo à criança, sinta o que ela te desperta, o que te parece estranho, o que parece bacana, com o que ela brinca, do que gosta, veja o que têm em comum e o que pode trazer de novo para a vida dela e ela para a sua.
Entenda que encontros com crianças costumam ser fortes. Elas costumam ser autênticas e mais sinceras que a maioria dos adultos que conhecemos. Os adultos costumam se perder disso quando crescem, principalmente tentando  agradar uma quantidade cada vez maior de pessoas e distanciando-se de como sentem suas emoções.
É claro que a ideia não é que você vire uma Cinderela às avessas, aguentando insultos, grosserias, chutes e patadas. Agressões, todas elas, precisam ser apontadas e combatidas, mas a FORMA como isso será feito dependerá da sua habilidade e disponibilidade para estar nessa relação.
Lembre-se que os lugares de mãe e de pai já tem dono. O seu lugar é outro e pode ser construído de muitas maneiras diferentes. Esqueça a maçã envenenada e abra seu coração. Crie um lugar novo com esse pequeno, apresente seu melhor, mostre o que tem de bom e receba o que ele pode te dar, no tempo e no modo dele.
Estamos no século 21, nenhuma família é igual à outra e nem toda história precisa de bruxa, certo?
Aquele abraço, 
Laura

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