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Com tempo para problemas

Mil canais de desenho 24 horas por dia, uma centena de jogos on-line, Youtube à disposição com toda e qualquer coisa que se possa imaginar, Google descobrindo e informando até mesmo o que não gostaríamos de saber, mensagens instantâneas.  
Parece que alteramos a lógica do tempo e me pergunto se ainda sabemos esperar. Em tempos de tanto à disposição parece um absurdo não querer nada, e vamos nos obrigando a fazer coisas e mais coisas que não necessariamente têm sentido.
Corremos para ler e-mails e mensagens, para responder demandas, para postar fotos em redes sociais. Corremos para cursos de atualização, acessar novas informações e diminuir a eterna sensação de “estou devendo”.
Quando eu era pequena, as histórias de “homem do saco” assustavam às crianças. Acho que o “homem do Google” me assusta hoje muito mais do que seu concorrente dos anos 80.
Em tempos de “homem do saco”, quando em rodas de amigos e desejávamos lembrar de uma música, ficávamos todos juntos, juntando pedacinhos que sabíamos, fazendo uma força mental gigante para chegar num trecho, e depois de um tempão aquilo virava uma cantoria de comemoração, repleta de gargalhadas e a alegria de termos conseguido chegar aquilo juntos.
Em tempo de “homem do Google”, quando em roda de amigos e desejamos lembrar de uma música, entramos no Google, achamos a música, colocamos para tocar e seguimos.
Parece que o “homem do Google” nos ajudou a resolver o problema, que, afinal, era lembrar a bendita música, no entanto, não me sinto feliz com a solução tão rápida. Sinto falta de ter dito “-está na ponta da língua!”, sinto falta de ver os amigos tentando cantarolar trechos aleatórios, de todo mundo fazendo cara de pensativo buscando nos maiores esconderijos da mente pedacinhos que pudessem ajudar, de sentir uma enorme alegria quando finalmente a música saía e era cantada por todos.
Diante de um problema, em geral, nossa meta é achar uma solução, certo?
Quando a criança não quer comer, ligamos a TV, ela se distrai e acaba comendo.
Quando estamos ocupados, permitimos que passem horas à frente do computador para que se divirtam.
Quando o papo com a criança não parece tão legal, abrimos as redes sociais e curtimos as postagens dos outros.
Os problemas foram resolvidos? Sim e não.  Sim, porque o incômodo acabou. Não, porque  não entendemos o que estava acontecendo,  não encontramos  com o problema, não encontramos o que gerou o problema e assim, cedo ou tarde, teremos que lidar com ele novamente.
Talvez seja a hora de encontrarmos mais com os problemas. Entender o que nos incomoda, conversar sobre isso, explicar nossos sentimentos diante do que acontece, ouvir o que incomoda o outro e como se sente, para finalmente encontrar uma saída para o problema.
Parece que essa saída consumirá muito mais tempo, mas será mesmo?
Experimenta e me conta.

Aquele abraço,
Laura Ferreira

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